O intestino neurogênico é uma condição que afeta o processo de armazenamento e eliminação de fezes. Após uma lesão medular, o sistema nervoso não consegue mais controlar a função intestinal da mesma maneira. A lesão neurológica bloqueia as mensagens que partem do sistema digestório para o cérebro e deste pela medula espinhal, de volta para o intestino.
Em condições normais, quando as fezes são empurradas para o reto, é desencadeada uma ação reflexa que provoca a contração do esfíncter anal, mantendo-o fechado para que as fezes não possam escapar. Logo após vem a percepção destas fezes no reto e, voluntariamente, se contrai o esfíncter anal para segurá-las e no momento adequado, no banheiro, ocorre o relaxamento deste esfíncter e a expulsão das fezes. Portanto, a falta do reflexo ocasionado pela lesão neurológica impede que o sujeito perceba as fezes no reto e e controle o seu esfíncter anal. Isto também pode afetar a peristalse – como as fezes se movem através do seu cólon.
Desta forma se faz necessário um planejamento de rotinas que poderá ajudar esse paciente a evitar problemas como a constipação, dores e perdas de fezes em momentos indesejados, pois, na grande maioria dos pacientes, a perda de fezes ocorre devido uma ampola retal sempre cheia que transborda aos mínimos esforços. Além disso, sabemos que uma ampola retal vazia e um bom funcionamento intestinal, melhora a função urinária.
Em primeiro lugar, precisamos melhorar a peristalse ou a consistência das fezes (a depender do paciente) com uso de medicação associada. É necessário também auxiliar de forma manual, com massagem abdominal, os movimentos intestinais, sempre escolhendo um momento do dia, sempre nos mesmos horários, por isso chamamos de rotina. Após a massagem, deve ser estimulado a evacuação. Tentamos ao máximo evitar a estimulação dígito-retal, pois pode criar traumas, principalmente se o paciente for uma criança. Devemos incentivar a expulsão das fezes no vaso sanitário, com os joelhos e tronco apoiados (a adaptação vai depender da condição do paciente) e o movimento de respiração para ativar o músculo transverso do abdômen e expulsar, desta forma, as fezes.
A rotina se faz importante a medida que vamos condicionando o sistema intestinal a funcionar naqueles horários.
Hoje já sabemos que a neuromodulação pode auxiliar nesse processo, a media que ativa os reflexos neurológicos para evacuação e peristalse, se tornando um aliado para o tratamento das disfunções neurogênicas do trato urinário e intestinal.